quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Rouxinol

Sou um mero rouxinol azul
E no meu canto matinal
Acordo o mundo, de um sono sobressaltado e demorado!
E canto cada vez que o sol raiar
Canto, o meu canto fúnebre
Neste leito que é só meu!
Porque a criança que fui um dia
O quis assim
E traçou este meu destino
Este meu calvário…
Só porque abri os olhos
Numa manhã submersa de medo
E já não era criança!
Era então um rouxinol
Que ao acordar o seu chilrear
Transforma o sonho de outra criança
Que também ela, medrosa, teima em não acordar!
No entanto,
Consegui lembrar a minha infância
E sou feliz por ser rouxinol
Onde a arrogância dos homens não tem lugar.
Sou aquele fruto mal carpido
Que o sol esqueceu de amadurecer!
Mas sou antes de mais
Um sonho, sonhado em dia
Por alguém tal como eu
Que o mundo esqueceu!
E porque a minha revolta é comparada
A um malmequer:
- Pequena mas bela!
Eu sofro sozinha, incansavelmente à espera
Que o mundo se revolte.
No entanto sei,
Que posso esperar a minha morte
Tal como fizeram os meus mestres
Porque o mundo está cego
E os rouxinóis são muito poucos!
Ana Ferreira(07/03/96)

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